O sistema de educação em Portugal
- Ana Cláudia Pereira
- 12 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mai. de 2023
Atualmente, frequento o 4º ano do ensino superior e, dispondo de um meio comparativo, facilmente encontro críticas (não desprezando, de forma alguma, as qualidades) ao sistema de educação hodierno em Portugal, com especial enfoque no ensino secundário.
Com efeito, no 9º ano, os alunos são forçados a seguir uma via mais específica, tendo em conta os seus objetivos futuros. Dispõem, deste modo, de quatro cursos inseridos na categoria de Científico-Humanísticos (sem desconsideração pelos cursos profissionais ou cursos do ensino artístico especializado, entre outras possibilidades). São hipóteses as Línguas e Humanidades, as Ciências e Tecnologias, as Ciências Socioeconómicas e as Artes Visuais. Não censuro, de modo algum, a escolha ser realizada em idades compreendidas entre os 14 e 15 anos, já que, por esta altura, a maioria dos alunos possui uma determinada inclinação para certas disciplinas. Afinal, foram 9 anos de contacto com variadas matérias, desde o Português, à Matemática, à Geografia, à Educação Visual. Acredito, por esse motivo, que o ensino básico esteja equilibrado nesse aspeto.
Contudo, apesar de o aluno ter selecionado um dos cursos supracitados, não implica que já não necessite de certas disciplinas características de outros cursos. De facto, não é benéfico, na minha opinião, um aluno de Ciências e Tecnologias não ter História como disciplina, que lhe permite uma visão contextualizada do mundo atual, isto é, perceber os fatores que instituíram a sociedade tal como ela é atualmente. É de realçar, também, o facto de a História fomentar e formar um cidadão ativo na vida política do seu país – um fator que, sem dúvida, condiciona a atuação de qualquer indivíduo, independentemente da profissão do mesmo. Por outro lado, é prejudicial para um aluno de Línguas e Humanidades não ter a disciplina de Economia, que lhe permite uma conspeção mais prática do funcionamento da sociedade, em termos económicos e financeiros, com os quais lida diariamente. Saliento, portanto, a necessidade da integração e obrigatoriedade de disciplinas de caráter geral em todos os cursos inseridos nesta categoria, em que se abordem temáticas necessárias à convivência em sociedade. Todavia, o peso conferido às mesmas, em termos de avaliação, não poderia ser o mesmo, para efeitos de cálculo de média na entrada para a faculdade.
Um outro aspeto a mencionar é a existência de disciplinas de opção, ou seja, de acordo com o curso, surge uma lista de disciplinas mais específicas relacionadas com o mesmo, de entre as quais os alunos devem selecionar apenas duas. Dispondo da possibilidade de ter Geografia, Oficina de Artes ou até Latim, por que é que um aluno deve estar sujeito às escolhas dos restantes? Noutras palavras, por que é necessário um número mínimo de estudantes para que um aluno possa aprender uma área que lhe desperta interesse ou que lhe trará benefícios na profissão que pretende? Porquê limitar e restringir esta possibilidade? Por que não oferecer um conjunto de disciplinas específicas do curso, as quais teriam caráter temporário e rotativo? Ou seja, disponibilizar uma diminuta carga horária semanal, em que os alunos teriam a oportunidade de conhecer novas áreas dentro da sua área, permitindo a todos usufruir das disciplinas que, eventualmente, pretenderiam, sem que estejam limitados pela condição acima mencionada. Creio que esta seja, talvez, a solução conciliadora a aplicar pelo Estado Português, designadamente, pelo Ministério da Educação.
Finalmente, abordo um dos temas mais controversos na educação: o recurso a números e médias para definir e distinguir os alunos. Sinto-me compelida a revelar a minha posição favorável relativamente a este assunto, constatando a atitude oposta da grande maioria. Segundo a DGES (Direção-Geral do Ensino Superior), cerca de 49 000 estudantes candidataram-se, em 2016, ao ensino superior. Que outra forma seria mais eficaz para decidir a entrada na faculdade? Se o processo já é moroso aplicando critérios objetivos, imaginemos o que seria se os alunos fossem avaliados qualitativamente e num conjunto interminável de critérios parciais! Este constituiria um dos problemas primaciais: decidir quais os critérios aplicáveis e de que forma se processaria essa aplicação, sendo de realçar a mais fácil parcialidade na atribuição das classificações. Este método não seria, portanto, eficaz em inúmeros aspetos. É inteligível que um magistrado, um médico, um economista ou um artista disponham de outras qualidades para além das reveladas em exames e outras avaliações. No entanto, acredito que os estudantes devem estabelecer objetivos a concretizar e que, posteriormente, devem esforçar-se para atingi-los, independentemente do sistema de ensino a que são sujeitos. Afinal, é a sua profissão durante 12 anos, não havendo, à partida, fatores externos que condicionem a sua prestação.
Concluo, por conseguinte, a existência de algumas falhas no sistema educacional português, para as quais existem soluções aplicáveis, reconhecendo, contudo e simultaneamente, os seus aspetos positivos. Restará saber até que ponto estarão as novas e as presentes gerações predispostas a estas mudanças.
Imagem retirada de: http://www.imprensafalsa.com/wp-content/uploads/2016/05/Educação-IDH.jpg
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